terça-feira, 18 de novembro de 2008

A disputa pela clientela por Felipe Menezes

Em cada esquina, ponto de parada ou qualquer lugar onde tenham bastante movimentação de pessoas, novos comerciantes aparecem. Devido à falta de emprego, indivíduos buscam novos meios de sustentabilidade. É o caso do mercado informal, pessoas de carência de crédito e por isso se tornam autônomas, criando o seu próprio negócio. E só cresce devido à necessidade, porque não há quem contra ele se oponha.
Mas há diferenças nesse mercado inusitado. Os que migram para as ruas a fim de obterem uma renda familiar são, geralmente, àqueles que invadem as ruas por necessidade, pois não conseguem emprego. Outros exploram para fugir do fisco. Ou seja, estes são as empresas que partem para as ruas para “montarem um negócio” porque querem, e, os mesmos, que especulam do setor informal para formar as suas receitas.
No Distrito Federal não seria diferente. O “point” do mercado informal que mais cresce na cidade são nas instituições de ensino. Do lado de fora da Universidade Católica de Brasília (UCB), por exemplo, há os “tios formais”, os já legalizados e identificados pelo Governo do Distrito Federal (GDF), e os “tios informais”, àqueles que competem os clientes.
Segundo Jonatas dos Santos, economista do Ministério do Trabalho e Emprego (TEM), a freqüência de pessoas que consomem é maior durante a noite. “A disputa de clientela é maior nesse horário devido a maior quantidade de alunos, que vêem do trabalho para a universidade, aonde chegam cansados e com fome”. Ele ainda acredita que o mercado é extremamente competitivo. “Os comerciantes disputam os clientes através dos preços e divulgação dos alimentos que possuem. Entretanto, se o vendedor não oferecer um produto diferenciado e de qualidade não haverá credibilidade dos consumidores”, ressaltou.
A autônoma Ivani Carneiro, de 33 anos, é conhecida como a “tia do caldo”. Há três anos, ela foi a primeira comerciante informal que chegou em frente a UCB. Após trabalhar anos numa empresa de processamento de dados, Ivani ficou desempregada durante seis meses. “Hoje o mercado de trabalho está muito difícil, então, eu tinha que fazer algo. Daí, me surgiu a idéia de fixar aqui em frente a Católica”, comentou. A “tia do caldo” disse que queria vender churrasquinhos, mas pela dica de uma prima optou pelos caldos. “Se meu caldo é bom é porque deu certo”, brincou.
De acordo com Jonatas, o retorno que Ivani recebe é devido à qualidade do produto. “Os vendedores acreditam na fidelidade dos clientes, com isso há garantia de lucro”, pontuou. Mas, diante disto, Ivani, a autônoma, diz que a crise financeira já a prejudica. “Ela está me afetando. As minhas vendas já caíram em 50%. Mas enquanto tiver forças vou ficar aqui, porque todos precisam comer. E esse é meu público, os estudantes”. Ela tira, por dia, em média, R$ 50. Para a “tia do caldo” ser autônomo não é fácil. De acordo com ela, enfrentou no início várias barreiras e preconceitos dos vendedores do comércio adversário. “Hoje só quem perturba é o Detran. Quando ele chega, saímos correndo. Como ficamos em cima da calçada, dá multa. E o dinheiro está curto”, desabafou.
Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2007, há 10,33 milhões de empreendimentos informais no país, e que o setor informal sustenta cerca de 13,8 milhões de pessoas.

0 comentários:

© 2008 Por Angélica Novais